Fichamento
Raça e História - Claude Lévi Strauss
Raça e História é um texto antropológico perene, até hoje
usado em debates em prol da luta contra o preconceito racial.
1-Raça e Cultura – O antropólogo,
etnólogo e filósofo belga Lévi Strauss diz que nada no estado atual da ciência
permite afirmar a superioridade ou inferioridade intelectual de uma raça em
relação a outra. A humanidade se desenvolve de formas muito diversificadas em
sociedade e civilizações onde a diversidade intelectual, estética e sociológica
não está conecta por nenhuma relação de causa e efeito no plano biológico, onde
não é correto relacionar aptidões distintas a constituições anatômicas ou
fisiológicas de negros, amarelos ou brancos. Ele observa aspectos importantes
como a existência de muito mais culturas que raças humanas.
2-Diversidade
das Culturas - O conceito de diversidade
cultural, leva em conta as diferenças entre as culturas
contemporâneas, que coexistem num determinado período de tempo. Entre as
culturas que ocupam momentos históricos diversos salienta que no caso dessas
últimas não temos acesso ao seu conhecimento pela experiência direta, o que
acaba prejudicando a observação de toda sua riqueza e complexidade. Strauss
chama a atenção para a existência de povos que não adotaram a escrita, fato que
inviabiliza o conhecimento preciso de suas formas anteriores. Inviabilizando
assim a elaboração de um inventário completo das culturas no espaço e no tempo.
Jamais seremos capazes de conhecer toda a riqueza cultural que esteve (e está)
presente no planeta.
Feitas essas considerações, o autor questiona no
que consistem culturas diferentes. Tal questionamento conduz à
constatação de que sociedades que “derivam de uma mesma raiz” não apresentam
tantas diferenças quanto sociedades que apresentam origens completamente
diferentes, embora se constituam em sociedades distintas. É constatado que em
alguns casos vê-se um processo de aproximação entre duas culturas, mesmo quando
essas apresentam “origens distintas”. Por trás dessas constatações revela-se
uma tensão observada dentro das sociedades humanas, entre uma força que
trabalha no sentido de manter as tradições culturais, e outra força que atua no
sentido de promover a aproximação com outras culturas. Tal revelação leva à
conclusão de que a diversidade cultural não se apresenta de maneira estática e é antes produto de contato
entre culturas do que
do isolamento.
3-O Etnocentrismo - Strauss descreve que no
etnocentrismo, há uma postura de rejeição e de menosprezo perante formas
culturais diferentes, é um traço cultural estranho comum entre a maioria das
culturas. O autor fornece uma série de exemplos de posturas etnocêntricas
adotadas por diferentes sociedades como na antiguidade onde os povos que não
compartilhavam da cultura greco-romana eram considerados “bárbaros”, da mesma
forma a civilização ocidental costuma se referir aos povos que não adotam seus
valores como “selvagens”. Nesse contexto, a cultura ocidental, marcada pelo
advento das revoluções industrial e científica, tomando como base especulações
filosóficas, estabelece um sistema “evolutivo” que procura abarcar toda a
diversidade cultural do planeta, como se fosse uma manifestação de diferentes
“estágios de desenvolvimento”: toda a humanidade estaria destinada a atingir,
em seu ápice, o mesmo “nível” do Ocidente. Este é o conceito de evolucionismo
social, criticado por Strauss.
Dada a
diversidade cultural no tempo e no espaço, e os vários aspectos que apresentam
cada civilização, Lévi-Strauss pondera que a tentativa de estabelecer analogias
entre diferentes culturas a partir de um de seus aspectos pode nos levar a
conclusões equivocadas. Para tanto, menciona como exemplo o paralelo que muitas
vezes é estabelecido entre sociedades paleolíticas e sociedades indígenas
contemporâneas, que por apresentarem como traço comum a utilização de
instrumentos de pedra talhada, conduzem a afirmações errôneas de que ambas se
constituem em culturas semelhantes, quando na verdade não existem subsídios
concretos, principalmente em relação às sociedades paleolíticas, cujo
comportamento não pode ser precisamente reproduzido, para se estabelecer tal
relação. A partir dessas constatações, critica a concepção de que existem
“povos sem história”, em que nada teria acontecido ao longo dos milênios que
essas sociedades ocupam o planeta.
4-Culturas
arcaicas e culturas primitivas – O autor sugere que toda sociedade segundo seu
próprio ponto de vista pode dividir a cultura como sendo as que são suas
contemporâneas que também se encontram num outro lado do globo, as que foram
manifestadas próxima do mesmo local mas que a precederam no tempo e as que
existiram num tempo anterior ao seu e num lugar diferente ao que está situada. Vimos
que estes três grupos podem ser conhecidos de forma desigual. No último caso e
quando se trata de culturas sem escrita, sem ter deixado algum tipo de
construção, e com técnicas rudimentares, não temos conhecimento sobre elas e
tudo o que tentamos saber a seu respeito não passam de hipóteses. Por outro
lado, tenta-se estabelecer, entre as diversas culturas do primeiro grupo,
relações que correspondem a uma ordem de sucessão no tempo. O autor questiona
de forma de forma relevante: Como é que sociedades contemporâneas, que
continuam a ignorar a eletricidade e a máquina a vapor, não evocariam a fase
correspondente do desenvolvimento da civilização ocidental? Como não comparar
as tribos indígenas, sem escrita e sem metalurgia, gravando figuras nas paredes
das rochas e fabricando utensílios de pedra, com as formas antigas das nossas
civilizações, cuja semelhança é atestada pelos vestígios encontrados nas grutas da França e Espanha?
Strauss
nos dá a entender que foi justamente aí que o falso evolucionismo ganhou espaço.
E ainda diz que nos deixamos seduzir sempre que há oportunidade. (não se
compraz o viajante ocidental em encontrar a “idade média” no Oriente, o “século
de Luís 14” na Pequim de antes da Primeira Guerra Mundial, a “idade da pedra”
entre os indígenas da Austrália ou da Nova Guiné?) é extraordinariamente
pernicioso.
Das civilizações
desaparecidas, conhecemos apenas alguns aspectos e estes diminuem à medida que
são mais antigas, pois os aspectos conhecidos são os únicos que puderam
sobreviver à destruição do tempo. O processo consiste, pois em tomar a parte
pelo todo, em concluir que, a partir do fato de que duas civilizações (uma
atual, a outra desaparecida) ofereçam semelhanças em alguns aspectos, pode-se
estender a analogia à todos os aspectos. Ora, esta maneira de raciocinar não só
é logicamente insustentável, mas ainda, num bom número de casos, é desmentida
pelos fatos. Até uma época relativamente recente, os tasmanianos e os patagônios possuíam ferramentas
de pedra lascada, e certas tribos australianas e americanas ainda os fabricam.
Mas o estudo destes instrumentos ajuda-nos muito pouco a compreender o seu uso
no período paleolítico. Como eram, então, usados os famosos machados de pedra
oval, cuja utilização devia, no entanto, ser de tal forma precisa, que a sua
forma e técnica de fabricação permaneceram padronizadas de maneira rígida
durante cem ou duzentos mil anos, e num território que se estendia da
Inglaterra à África do Sul, da França à China?
Para que serviam
as extraordinárias peças feitas com a técnica Levallois, pedras lascadas de formato triangular que encontramos
às centenas nos jazigos e que nenhuma hipótese consegue explicar completamente?
O que eram os pretensos “bastões de comando” em osso de rena? Qual poderia ser a tecnologia da cultura tardenoisense que deixou
para trás um número inacreditável de minúsculos pedaços de pedra polida, com
formas geométricas infinitamente diversificadas, mas muito poucos utensílios na
escala da mão humana?
Todas estas
incertezas mostram que entre as sociedades paleolíticas e determinadas
sociedades indígenas contemporâneas existe uma semelhança – serviram-se de
utensílios de pedra polida. Mas mesmo no plano da tecnologia, torna-se difícil
ir mais longe; o emprego dos materiais, os tipos de instrumentos, e, por tanto
o propósito com que eram usados, eram diferentes, e mesmo neste aspecto
limitado um grupo nos ensina muito pouco em relação ao outro.
Como poderíamos
então aprender qualquer coisa sobre linguagem, instituições sociais ou crenças
religiosas? Uma das interpretações mais populares inspiradas pelo evolucionismo
cultural trata as pinturas rupestres legadas pelas sociedades do paleolítico
médio como figurações mágicas ligadas a rituais de caça.
O raciocínio é o
seguinte: as populações primitivas atuais têm rituais de caça, que a maior
parte das vezes, nos aparecem desprovidos de valor utilitário; as pinturas
rupestres pré-históricas, tanto pelo seu número como pela sua localização, bem
no fundo das cavernas, não aparentam ter qualquer valor utilitário; os seus
autores eram caçadores, logo podemos concluir que eram usadas em rituais de
caça. Basta enunciar esta argumentação para se perceber sua inconsequência.
Além disso, é
sobretudo entre os não-especialistas que ela ganha força, porque os etnógrafos
estão de acordo em afirmar que nada, nos fatos observados, permite formular
qualquer hipótese sobre a natureza destas pinturas. E, já que falamos das
pinturas rupestres, sublinharemos que, à exceção das sul-africanas
(consideradas por alguns como obras recentes), as artes “primitivas” estão tão
afastadas da arte do Paleolítico
como da arte europeia contemporânea. Porque esta se caracteriza por um elevado
grau de estilização, indo até às deformações mais extremas, enquanto a arte
pré-histórica oferece um realismo surpreendente.
Poderíamos cair na
tentação de ver nesta última a origem da arte europeia, mas isso seria inexato,
uma vez que, no mesmo território, a arte paleolítica foi seguida por outras
formas que não apresentam as mesmas características; a continuidade do lugar geográfico
não muda o fato de que sobre o mesmo solo se sucederam diferentes populações,
alheias à obra dos seus antecessores, e trazendo cada uma consigo crenças,
técnicas e estilos diferentes.
O ponto que
as civilizações da América
pré-colombiana atingiram na véspera da descoberta evocam o período neolítico europeu. Mas também
esta comparação não resiste a um exame mais atento; na Europa, a agricultura e
a domesticação de animais caminham de mãos dadas, enquanto na América, um
desenvolvimento excepcional da agricultura é acompanhado pela quase completa
ignorância (ou, de qualquer modo, por uma extrema limitação) da criação de
animais domésticos.
Na América, o uso
de utensílios de pedra convive com uma economia agrícola que na Europa está
associada ao início da metalurgia. É inútil multiplicar os exemplos. Porque a
tentativa de conhecer a riqueza e a originalidade das culturas humanas, só para
tomá-las como réplicas atrasadas da civilização ocidental, choca-se com uma
outra dificuldade que é muito mais profunda. De uma maneira geral (e excetuando
a América, a qual voltaremos) todas as sociedades humanas têm atrás delas um
passado aproximadamente da mesma ordem de grandeza.
Para considerar
determinadas sociedades como “etapas” do desenvolvimento de outras, seria
preciso admitir que enquanto com umas se passava qualquer coisa, com outras não
acontecia nada, ou muito pouco.
E, na verdade,
falamos dos “povos sem história” (para dizer, por vezes, que são “os mais
felizes”). Esta forma elíptica significa apenas que sua história é e continuará
a ser desconhecida, não a sua inexistência. Durante dezenas e mesmo centenas de
milênios, também nesses povos existiram homens que amaram, odiaram, sofreram,
inventaram, combateram.
Na verdade, não
existem povos crianças, todos são adultos, mesmo aqueles que não deixaram um
diário de infância e da adolescência. Poderíamos, na verdade, dizer que as
sociedades humanas utilizaram desigualmente um tempo passado que, para algumas,
teria sido mesmo um tempo perdido; que umas andavam rapidamente, enquanto
outras divagavam ao longo do caminho. Seríamos assim conduzidos a distinguir
duas espécies de histórias: uma progressiva, aquisitiva, que acumula os achados
e as invenções para construir grandes civilizações; e uma outra história, talvez
igualmente ativa e empregando outros dons, mas a que faltasse o talento da
síntese.
Cada inovação em
vez de acrescentar às anteriores, e orientadas no mesmo sentido,
dissolver-se-ia numa espécie de onda que nunca consegue se afastar por muito
tempo da direção original. Esta concepção parece muito mais flexível e matizada
que as visões simplistas descritas anteriormente. Podemos guardar um lugar para
ela na nossa tentativa de interpretação da diversidade das culturas sem sermos
injustos com as demais. Mas, antes, é necessário que examinemos várias
questões.
5- A ideia de progresso - Nesse sentido, a
ideia de progresso é questionada, mediante as evidências de que não há uma
direção única na manifestação do gênio humano, seja no campo da técnica, das artes,
da organização social, etc. Para tanto, Lévi-Strauss se vale da metáfora do
movimento do cavalo no jogo de xadrez, movimento
que se processa com várias mudanças de direção, mas permitem alcançar diversos
espaços no tabuleiro; analogamente, os progressos da humanidade não seguem uma
trajetória em linha reta, mas atravessam caminhos tortuosos até se consolidarem
em efetiva mudança de patamar.
Retomando a
discussão sobre história cumulativa e estacionária, somos colocados diante do problema
referente ao critério que nos permitiria
enquadrar uma determinada sociedade num modelo ou noutro de história. Dessa
forma, é formulada a ideia de que um determinado observador tende a considerar
cumulativa toda a cultura que se desenvolve na mesma direção que a sua — um
conceito relativo, portanto. Para ilustrar a situação, uma nova metáfora é
apresentada: a de um observador que se desloca em um trem, cruzando com outros
trens a medida em que se movimenta; ao contrário do observado sob o aspecto
físico, ao observador parece que os trens (culturas) que se movem na mesma
direção do seu se deslocam mais rapidamente, ao passo que aqueles que andam por
direções e sentidos diferentes dão a impressão de se moverem com lentidão.
Por outro lado, Lévi-Strauss propõe que todas as
civilizações reconhecem a superioridade do Ocidente, uma vez que seria
observável uma tendência de difusão de vários traços culturais ocidentais entre
os mais diferentes povos, a se destacar a técnica, a ciência, os modos de vida,
etc. Nesse sentido, constata que a adoção de tais valores por outras culturas
nem sempre se dá de modo consensual, tendo contado a civilização ocidental, não
raro, com seu aparato militar, econômico e ideológico para impor sua
“dominação”.
Sobre esse movimento de caráter “global”, cujo
estopim foi a Revolução Industrial, o autor traça um paralelo com a outra única
revolução dotada dessa mesma característica, a Revolução Neolítica, que marcou
a descoberta da agricultura, mudando definitivamente as feições dos grupos
sociais humanos por toda a Terra. Essas revoluções são caracterizadas como
grandes “saltos quânticos” na história da humanidade.
Lévi-Strauss ressalta que os progressos
tecnológicos adquiridos ao longo do tempo pelas sociedades humanas — alterando
sua relação com a natureza e dentro dos próprios grupos sociais — de forma
alguma podem ser consideradas como obras do acaso, embora houvesse uma clara
inclinação para tal interpretação, principalmente em relação às descobertas
mais antigas. Ora, se não houvesse uma pré-disposição, um desejo subjacente,
jamais ocorreria uma descoberta acidental. Mesmo essas circunstâncias
acidentais devem ser raras, contribuindo pouco para os novos progressos; antes,
os avanços são fruto de intenso trabalho dos inventores.
Outra constatação
importante do autor é de que os progressos realizados pelas sociedades humanas
são tanto maiores quanto maior é a diversidade, a quantidade e a intensidade do
contato entre culturas. Menciona como exemplo a Europa na época do
Renascimento, que num território limitado abarcava uma miríade de povos, com as
mais diferentes tradições culturais. Isso porque diferentes conhecimentos podem
estabelecer “diálogos”, engendrando novos conhecimentos. Nesse ponto é
apresentada a metáfora do jogador, que procura aumentar suas possibilidades de
ganho num jogo de roleta: se optar por jogar sozinho, dificilmente conseguirá
formar uma série consecutiva longa, por outro lado, se estabelecer coligações
com jogadores de outras mesas, que fazem apostas diferentes, a possibilidade de
estabelecer uma sequência longa se ampliam. Vem daí a grande importância de a
humanidade preservar sua diversidade cultural.
Contudo, Lévi-Strauss observa em curso um processo
de gestação de uma “civilização mundial”, um processo de homogeneização
cultural, fato que seria preocupante na medida em que significaria a redução
drástica da diversidade de culturas, diminuindo a possibilidade de estabelecer
“diálogos culturais” e consequente geração de novos conhecimentos. Retomando a
metáfora do jogador, é como se todos os jogadores passassem a fazer as mesmas
apostas, diminuindo as chances de se obter uma sequência longa. Com o objetivo
de preservar a diversidade cultural, o autor destaca o papel a ser desempenhado
pelas instituições internacionais.
As culturas não possuem estágios homogêneos de
desenvolvimento, não havendo uma única direção no desenvolvimento social.
O contato com outras culturas pode ocasionar essa
alteridade “desenvolvimento”. E a percepção das diferenças pode gerar uma visão
etnocêntrica do mundo.
Não existem culturas em estágios de evolução
superior ou inferior.
Nenhuma cultura é estacionaria, estão sempre se
modificando
Longe de permanecer
encerradas em si mesmas, todas as civilizações reconhecem, uma após outra, a
superioridade de uma delas, que é a civilização ocidental. Não vemos nós o
mundo inteiro extrair dela progressivamente as suas técnicas, o seu gênero de
vida, as suas distrações e até o seu vestuário? Tal como Diógenes provava o
movimento andando, é o próprio progresso das culturas humanas que, desde as
imensas populações da Ásia até as tribos perdidas na selva brasileira ou
africana, prova, por uma adesão unânime sem precedentes na história, que uma
das formas da civilização humana é superior a todas as outras: o que os países
"insuficientemente desenvolvidos" reprovam aos outros nas assembleias
internacionais não é o fato destes os ocidentalizarem, mas o fato de não lhes
darem bastante rapidamente os meios de o fazerem. (pag.13)
Não podemos
considerar o darwinismo social, não existem culturas que estão estágios de
evolução inferior ou superior. De acordo com Strauss os humanos podem ser
classificados por suas etnias, e não por estágios de evolução social, pois
todas as culturas possuem um mesmo material básico (linguagem, técnicas, arte e
entre outros).
Começaremos por
observar que esta adesão ao gênero da vida ocidental, ou a alguns dos seus
aspectos, está longe de ser tão espontânea quanto os ocidentais gostariam que
ela fosse. Resulta menos de uma decisão livre do que de uma ausência de
escolha. A civilização ocidental estabeleceu os seus soldados, as suas
feitorias, as suas plantações e os seus missionários em todo o mundo:
interveio, direta ou indiretamente, na vida das populações de cor, revolucionou
de alto a baixo o modo tradicional de existência destas, quer impondo o seu,
quer instaurando condições que engendrariam o desmoronar dos quadros existentes
sem os substituir por outra coisa. (pag.14)
Para Strauss, não faz nenhum sentido discutir o
sentido da raça humana, pois as
diferenças baseadas em caraterísticas corporais é muito pequeno quando
comparado com as semelhanças genéticas dos indivíduos. Com isso ele centraliza
sua tese no conceito de cultura.
7.Lugar
de civilização acidental
Tocamos aqui no ponto
mais sensível do nosso debate; de nada valeria querer defender a originalidade
das culturas humanas contra si mesmas. Além do mais, é extremamente difícil
para o etnólogo fazer uma justa apreciação de um fenômeno como a
universalização da civilização ocidental e isso por várias razões. Primeiro, a
existência de uma civilização mundial é um fato provavelmente único na história
e cujos precedentes deveriam ser procurados numa pré-história longínqua, sobre
a qual não sabemos quase nada. Em seguida, reina uma grande incerteza sobre a
consistência do fenômeno em questão.
Para Strauss
a chamada universalização ocidental é difícil de ser avaliada, pois e
praticamente único na historia da humanidade e dado a incerteza de seus
resultados. A adesão ao gênero de vida ocidental se da em desigualdade de
forças, o que leva a Lévi Strauss considerar que as sociedades não se entregam
com tanta facilidade e que esta adesão se deve mais a uma ausência de escolha.
8. Acaso
e civilização
Lemos nos tratados de
etnologia - e não só nos piores - que o homem deve o conhecimento do fogo ao
acaso de uma faísca ou de um incêndio; que o achado de uma peça de caça
acidentalmente assada nestas condições lhe revelou o cozimento dos alimentos;
que a invenção da olaria resulta do esquecimento de uma bolinha de argila na
vizinhança de uma lareira. Diríamos que o homem teria vivido primeiro numa
espécie de idade de ouro tecnológica, onde as invenções se colhiam com a mesma
facilidade que os frutos e as flores. Ao homem moderno estariam reservadas as
fadigas do labor e as iluminações do gênio. (pag.15)
Strauss “descarta” o que chamamos de acaso nas
grandes invenções da humanidade no passado e diz que a revolução industrial e
cientifica do ocidente se inscreve no período igual a cerca de meio milésimo da
vida passado da humanidade. Nos orientando a sermos modestos antes de pensarmos
que ela está destinada a mudar o significado para uma raça, religião ou país.
Reitera ainda que as diferenças entre culturas não deve ser cumulativas; o
conceito que além de depender do relativismo de nossos interesses e negado
ainda pelo fato de que a humanidade não evolui num sentido único.
9. A
colaboração das culturas
Ora, esta situação
assemelha-se muito à das culturas que conseguiram realizar as formas da
história mais cumulativas. Estas formas extremas nunca foram resultado de
culturas isoladas, mas sim de culturas que combinam, voluntária ou
involuntariamente, os seus jogos respectivos e realizam por meios variados
(migrações, empréstimos, trocas comerciais, guerras) estas coligações cujo
modelo acabamos de imaginar. E é aqui que atingimos o absurdo que é declarar
uma cultura superior a outra. Porque, na medida em que se encontrasse isolada,
uma cultura nunca poderia ser "superior"; como o jogador isolado, ela
nunca conseguiria senão pequenas séries de alguns elementos, e a probabilidade
de que uma série longa "saia" na sua história (sem ser teoricamente
excluída) seria tão fraca que seria preciso dispor-se de um tempo infinitamente
mais longo do que aquele em que se inscreve o desenvolvimento total da
humanidade para ser possível vê-la realizar-se. (pag. 19)
O principal absurdo de considerar uma cultura
inferior ou superior, segundo Strauss, surge do fato de que a que uma cultura
está só ela elabora muito pouco de história acumulativa. Não se pode então
fazer uma listagem de invenções particulares, pois a verdadeira contribuição
das culturas está no afastamento diferencial que elas apresentam entre si.
Por favor tira a preenchimento cinza. Fica cansativo para os olhos. Fora isso o conteúdo está muito bom.
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