Universidade Federal do Sul da Bahia

Universidade Federal do Sul da Bahia

terça-feira, 10 de maio de 2016

O feiticeiro e sua magia


STRAUSS, Levi;. O feiticeiro e sua magia.

Insere-se no campo do estudo de casos e analise antropológica.
Aborda como se davam rituais xamanicos, o papel do feiticeiro, da comunidade e do doente juntamente com os símbolos que cercam o ritual de cura.

O FEITICEIRO E SUA MAGIA
O texto aborda os mecanismos pisco fisiológicos, o inconsciente e consciente do doente no papel da cura, quando persuadido as tradições do grupo.
Com a doença o individuo experimenta juntamente uma espécie de condenação por parte do grupo como moribundo. O organismo do individuo reage de maneira a frequentemente recusar comida e bebida, dentre outras transformações observadas pela medicina e psicologia em situações pós traumáticas.
Surge então a figura do feiticeiro. O grupo ao qual o individuo pertence acredita piamente em seu xamã e em suas técnicas e espera que após a intervenção xamanica o doente seja finalmente curado.
Em seguida o autor faz uso do estudo de relatos envolvendo os Zuni do Novo México onde um rapaz foi acusado de feitiçaria após tocar em uma moça e ela ter uma crise epilética, e como esse rapaz se sai da situação dentro de um tribunal imposto pela tribo para investigar o caso. 
O grupo se sente confortado após a situação esclarecida pelo rapaz através de ricas historias míticas a respeito de sua família e u;ma pena mágica no interior de uma parede da casa. Após algumas paredes derrubadas encontram uma pena no meio do barro. A tribo se sente confortada com a satisfação de justiça. O rapaz assim escapa de ser executado, e garante a todos sua coerência mental. Trabalha assim o personagem que lhe impuseram, e se mostra inocente detentor de poderes mágicos, com a pena destruída ele já não é mais uma ameaça a tribo.
O xãma autorizado pelo grupo dispõe de qualidades teatrais para convencer de sua cura. Epassa por um treinamento, o relato de Quesalid, de Vancouver no Canadá, mostra que o feiticeiro passou por uma preparação de quatro anos antes de exercer a função. E ao se encontrar com outros feiticeiros viu uma diferença significativa no emprego dos métodos de cura, onde aparentemente o mais surpreendente: do verme ensangüentado, parecia também mais eficaz. Nenhum dos métodos parece adequado a cura mas levam o caráter experimental. E o segredo do xamã quanto ao seu método é importante para manter a aura de misticismo.
A cura se da na crença que estes estados patológicos têm uma causa que pode ser atingida, e o feiticeiro cumpre o papel de passar a todos um sistema de interpretação junto com a inversão pessoal para ordenar a situação diagnosticando e curando.
O doente geralmente experimenta um estado psicossomático, e experimenta a cura assim como o público participa dala.
Esses elementos estão de maneira indissociável com a pratica do xamanismo.
O consenso social da cura é fundamental, o individuo se adapta as exigências do grupo, como também, é fundamental para que o individuo reafirme sua crença e entre no processo de cura. Onde também se coloca o papel afetivo da pratica, e cada um desempenha um papel no ritual.
´´A cura põe em relação esses polos opostos, assegura a passagem de um a outro, e manifesta, numa experiência total a coerência do universo psíquico, ele próprio é a projeção do universo social.`` (pp. 200)

Para o grupo não é a cura real que importa e sim o mito que a fomenta.

domingo, 8 de maio de 2016

Comparação entre as Escolas


Escola Evolucionista

Henry Morgan é um dos fundadores da escola evolucionista da antropologia moderna. Nascido nos Estados Unidos no século XIX e formado em direito. Os outros fundadores são Edward burnett Tylor e James George Frazer.
Essa escola é grandemente influenciada por outras ciências da mesma época. Darwin lançou sua teoria da evolução, que todos seres que hoje existem vem de uma evolução na luta pela sobrevivência, na mesma época de Morgan, o que não é coincidência nem desconexo afinal a escola é denominada evolucionista.
“Progresso, degradação, sobrevivência, renascimento e modificação são, todos eles, aspectos da conexão que liga a complexa rede da civilização. Basta uma olhada nos detalhes triviais de nossa própria vida diária para nos pormos a pensar 0 quanto somos nós realmente seus originadores e o quanto somos apenas os transmissores e modificadores dos resultados de eras muito antigas. Olhando à nossa volta, nos ambientes em que vivemos, podemos verificar o quanto aquele que conhece apenas o seu tempo pode ser capaz de corretamente compreendê-lo.”  A Ciência da cultura 1871 Tylor, E.
Morgan expande o conceito de evolução a partir da luta pela sobrevivência para o âmbito social. Para ele as sociedades também têm seus processos e estágios de evolução: selvageria depois barbárie depois civilização.
Selvageria já diz muito apenas no nome, em síntese, é o estágio mais animalesco e primitivo da humanidade. Só começa a ser barbárie a partir da invenção da cerâmica e só passa a ser civilização depois de inventar o processo de fundição de ferro com a invenção do alfabeto fonético e o uso da escrita.
“A idéia de propriedade passou por um crescimento e um desenvolvimento semelhantes. Começando do zero, na selvageria, a paixão pela propriedade, como representando a subsistência acumulada, tornou-se agora dominante na mente humana nas raças civilizadas.”, A Sociedade Antiga, Morgan, H.
Os estágios da raça humana não são soltos, é natural que ocorra o progresso, que se passe de um para o outro a partir de necessidades que surgem a partir de cada progresso e cada luta e assim de forma sempre contínua e ascendente.
“Na verdade, comparado com o homem em seu estado absolutamente prístino, mesmo o mais selvagem dos selvagens de hoje é, sem dúvida, um ser altamente desenvolvido e culto, já que todas as evidências e todas as probabilidades estão a favor da idéia de que toda raça existente de homens, da mais rude à mais civilizada, alcançou seu presente nível de cultura, seja ele alto ou baixo, apenas após um lento e doloroso progresso ascendente, que deve ter se estendido por muitos milhares, talvez milhões, de anos.” O Escopo da Antropologia Social, Frazer, J, 1908.

Escola Funcionalista

Numa época um pouco depois do surgimento da escola evolucionista, os britânicos Radcliff Brown e Bronislaw Kasper Malinowski, a partir de uma abordagem diferente envolvendo mais trabalho de campo e menos de gabinete trouxeram o funcionalismo.
Na teoria do funcionalismo de Malinowski, tudo na sociedade tem sua função, tudo serve para alguma coisa e nada fica desencaixado nem desconexo. Cada sociedade tem suas partes, pedaços ou órgãos, exercendo suas determinadas funções, o que claramente mostra a influência de Durkheim no desenvolvimento da sua teoria.
”Em qualquer uma de suas formas, o funcionalismo está estreitamente vinculado ao trabalho de campo. Isso não quer dizer, entretanto, que o funcionalismo se reduza a uma técnica de pesquisa. Mesmo em Malinowski, que é o etnógrafo por excelência, a crítica à antropologia clássica e a formulação de novos problemas teóricos procedem seu trabalho de campo”. Malinowski, B. 1922.
Além disso, a partir de Malinowski os antropólogos param de apenas escrever suas teses e teorias a partir de viagens de outros e passam a ir por conta própria.
Dessa forma a escola do funcionalismo além de uma teoria fundamental da antropologia ainda é um método de pesquisa, caracterizado pela necessidade de observação participante, ver a sociedade de dentro e não de relatos, estar presente nas ações do cotidiano, falar o idioma.
Para Malinowski o bom pesquisador deve praticamente se tornar um membro temporário daquela comunidade que deseja estudar para não ficar com nada de fora, pois para ele o olhar de dentro é o mais revelador.
Inovar não é fácil e nem pacifico, apesar de que suas ideias sejam de certo modo coerentes e podem ser facilmente juntadas com as de Malinowski, Brown critica grandemente Malinowski em seu livro: “Apontaram-me mais de uma vez como pertencendo à chamada ‘Escola Funcional de Antropologia Social’ e mesmo como seu chefe, ou um de seus chefes. Essa escola funcional não existe, em realidade; é um mito inventado pelo professor Malinowski. Eis o que ele próprio disse a respeito: ‘o pomposo título de Escola Funcional de Antropologia foi por mim atribuído de certo modo a mim mesmo, e, em grande parte, mercê de meu próprio senso de irresponsabilidade’. A irresponsabilidade do professor Malinowski deu resultados infelizes, desde que espalhou sobre a Antropologia densa névoa de discussão a respeito do ‘funcionalismo’”. Estrutura Social, Brown, R.
Isto dito, voltemos às ideias de Brown, que também claramente influenciadas por Durkheim, revelam semelhanças com esse funcionalismo “inexistente”, ainda no mesmo livro pouco depois de criticar Malinowski, Brown disse: “Quanto à definição preliminar de fenômenos sociais, parece suficientemente claro que o de que temos de nos ocupar são as relações de associação entre organismos individuais. Numa colméia há relações associativas da rainha, as operárias e os zangões. Há a associação de animais num rebanho, e a da gata com seus gatinhos. Trata-se de fenômenos sociais; não creio que alguém os chamará de fenômenos culturais. Na Antropologia, é claro, só nos ocupamos com seres humanos, e na Antropologia Social, como a defino, o que temos de investigar são as formas de associação que se encontram entre seres humanos”.  Estrutura Social, Brown, R. 
Quando Brown diz fenômenos sociais, inteiração entre seres humanos, fenômenos culturais e ainda compara a sociedade com uma colmeia que é um tipo de sociedade claramente funcionalista, é nesse ponto que o conceito de sociedade mecânica de Durkheim aparece e praticamente une as ideias de Brown e Malinowski. As ideias dos dois sempre remetem à sociedade como um organismo, tudo ligado, tudo conectado, tudo dependendo um do outro, com várias palavras diferentes, vários caminhos percorridos, várias críticas e tudo mais no final a ideia que se sobressai ainda é a original de Durkheim.
O pensamento ocidental costuma ser binário, ao comparar coisas principalmente, tende a colocar um como certo outro como errado. O problema de se comparar escolas da antropologia é esse, cada uma tem seu ponto forte e seu ponto fraco, cada uma foi usada para uma forma de alcançar um objetivo, entretanto, ainda fica uma dúvida escondida lá atrás: Afinal qual das duas é a melhor?

O pensamento ocidental binário não deve ser usado aqui, afinal existem outras escolas, outros métodos, outros pensadores e fundadores, não se deve aceitar uma nem outra, desmentir uma e acreditar na outra, todas que foram criadas tem sua melhor forma de ser usada, cabe a quem for usar entender todas elas, para não ter um pensamento fechado, nem de gabinete de mais, nem mecânico de mais, todas possibilidades estão disponíveis para serem usadas.
Fichamento

Ruth Benedict



Ruth Benedict, nascida Ruth Fulton, (Nova Iorque, 6 de Junho de 1887 — Nova Iorque, 17 de setembro de 1948) foi uma antropóloga americana.

Ela nasceu na cidade de Nova Iorque, tendo estudado no Vassar College, onde se formou em 1909. Iniciou sua graduação na Universidade de Columbia em 1919. Lá entrou em contato com Franz Boas e se tornou PhD. Em 1923 tornou-se membro da mesma universidade. Margaret Mead, com quem manteve relacionamento amoroso, e Marvin Opler foram alguns de seus colegas e alunos. Franz Boas, seu professor e orientador, considerado o pai da antropologia americana, teve seus pontos de vista manifestos em Ruth Fulton Benedict.


Sobre o Livro O crisântemo e a Espada:


A forma inovadora que a antropóloga americana Ruth Benedict redigiu a citada obra em 1940, surpreende por ser uma obra á distancia, indo contra os preceitos da antropologia, que se baseia em vivenciar uma cultura, para depois falar sobre ela. Em meio á guerra entre Americanos e Japoneses, a função de Ruth era fornecer informações sobre a cultura Japonesa, já que os mesmos eram uma cógnita para os Americanos que se surpreenderam ao Japão mostrar força na guerra. Ruth Decide assim entrevistar japoneses que moram nos Estados Unidos, visando obter informações de pessoas que observavam de maneira diferente tudo que estava acontecendo. A mesma tenta se comparar a Darwin, pois mostra-se tomando nota daquilo que não tinha meios de compreender. A mesma além de ler livros escritos por japoneses, assistiu filmes históricos e filmes sobre a vida contemporânea em Tóquio e nas aldeias. A missão dela era de espionagem, trazer dados que por ventura viesse a ajudar os americanos.
O Japão entrou na guerra visando estabelecer uma hierarquia, que obviamente, a ele se subordinasse, uma vez que era o único representante de uma nação verdadeiramente hierárquica de cima a baixo, compreendendo, portanto, a necessidade de ocupar o seu devido lugar. A honra ligava-se a luta até a morte e a rendição era tida como vergonha. Este era o princípio do  heroísmo japonês ligado a ideia do espírito, com base na leitura podemos dizer que os Estados Unidos são ligados a matéria, enquanto o Japão ao espírito.
Para os  japoneses a morte pela pátria era de caráter heroico para a nação, eles preferiam uma morte honrada á ser capturado pelo adversário.  Cometiam suicídio com uma granada em mãos, e o extremo dessa prática era a politica de não rendição, “Numa situação desesperada, um soldado japonês deveria matar-se com a sua derradeira granada na mão ou atacar desarmado o inimigo numa avançada suicida em massa”.


Principais Pontos


·        A hierarquia na cultura japonesa
·        Posição da mulher na sociedade japonesa
·        Heroísmo japonês ligado a ideia de espírito
·        Política de não rendição
·        Honra = lutar até a morte


O que é o crisântemo O para o Japão?


Os Crisântemos foram originados na China e trazidos para o Japão no ano de 400 dC. por monges budistas. Os imperadores japoneses ficaram tão impressionados com a beleza desta flor que acabaram adotando seu projeto para ser um dos maiores símbolos da família imperial japonesa, e mais tarde a Flor Nacional do Japão.
Em 910 dC, o Imperador japonês adotou o crisântemo como seu selo oficial e brasão da família imperial– uma flor dourada com 16 pétalas que irradiam do centro como chamas do sol. O trono onde os Imperadores se sentam também são chamados de “Trono de Crisântemo”, além da “Suprema Ordem do Crisântemo”, honraria concedido somente pelo imperador.

Referências:



Fichamento

LEVI STRAUSS- Eficácia Simbólica



Claude Lévi-Strauss foi um antropólogo francês, nascido na Bélgica, um dos grandes pensadores do século XX, ele tornou-se conhecido na França, onde seus estudos foram fundamentais para o desenvolvimento da antropologia. Filho de um artista e membro de uma família judia francesa intelectual estudou na Universidade de Paris. De início, cursou leis e filosofia, mas descobriu na etnologia sua verdadeira paixão. No Brasil, lecionou sociologia na recém-fundada Universidade de São Paulo, de 1935 a 1939, e fez várias expedições ao Brasil central. É o registro dessas viagens, publicado no livro "Tristes Trópicos" (1955) que lhe trará a fama. Nessa obra ele conta como sua vocação de antropólogo nasceu durante as viagens ao interior do Brasil.

Membro da Academia de Ciências Francesa (1973) integra também muitas academias científicas, em especial europeias e norte-americanas. Também é doutor honoris causa das universidades de Bruxelas, Oxford, Chicago, Stirling, Upsala, Montréal, México, Québec, Zaïre, Visva Bharati, Yale, Harvard, Johns Hopkins e Columbia, entre outras.Aos 97 anos, em 2005, recebeu o 17o Prêmio Internacional Catalunha, na Espanha. Declarou na ocasião: "Fico emocionado, porque estou na idade em que não se recebem nem se dão prêmios, pois sou muito velho para fazer parte de um corpo de jurados. Meu único desejo é um pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem o ser humano e vai terminar sem ele - isso é algo que sempre deveríamos ter presente". Morreu no dia 30 de outubro de 2009 em Paris.
No capítulo X do livro Antropologia Estrutural, intitulado a eficácia simbólica, de Levi-Strauss vem dizendo de um caso de intervenção de um xamã em um parto difícil de uma mulher Cuna, no Panamá. Vem trazendo questões fundamentais: primeiro, se as técnicas de cura xamânicas são de fato eficazes, e segundo, se o são, como atingem seus objetivos. Uma das técnicas de cura que ele aborda é o canto, que tem com objetivo ajudar um parto difícil, pois essa intervenção do Xamã é rara e utilizada apenas em casos excepcionais, principalmente porque as mulheres indígenas da America do Sul dão a luz mais facilmente que as do ocidente, e só pode ser feito a pedido da parteira. Na preparação são utilizadas fumigações de favas de cacau queimadas, que são invocações, representam os assistentes do Xãma, esses espíritos protetores são responsáveis pela eficácia, ao conduzir o Xamã à morada de Muu, que é a responsável pela formação do feto.
As complicações desse parto devem-se ao fato de que Muu, força responsável pela formação do feto, extrapolou suas atribuições e se apossou da alma da futura mãe. ‘’Muu não é, pois uma força essencialmente má é urna força transviada. O parto difícil se explica como um desvio pela “alma” do útero de todas as outras ‘‘almas” das diferentes partes do corpo. Uma vez estas libertadas, a outra pode e deve retomar a colaboração. Sublinhemos desde já a precisão com que a ideologia indígena delineia o conteúdo afetivo da perturbação fisiológica, tal como pode aparecer, de maneira não formulada, à consciência da doente.’’ P. 219
É preciso, portanto, que o xamã invoque os espíritos dos ventos, das águas, dos bosques, das bebidas alcoólicas, dos barcos dos homens brancos, através de um canto que busca a alma purba perdida. Muu habita na vagina e no útero da parturiente e o canto descreve a luta travada pelo xamã, com a ajuda dos espíritos invocados, para adentrar esse corpo de modo que o purba da mulher seja descoberto e libertado e o bebê possa nascer. Nesse canto, o xamã descreve seu percurso no interior do corpo, numa geografia dos órgãos internos, habitados por monstros e feras. Em nenhum o momento o xamã toca de fato o corpo da mulher, embora em seu canto relate cada parte por aonde vai passando, junto com seus ajudantes, para libertar o purba. O canto entoado pelo xamã tem como principal objetivo descrever as dores e nomeá-las para a parturiente, apresentando-se numa forma que possa ser apreendida pelo pensamento, consciente ou inconsciente.

 ‘’O xamá fornece á sua doente urna linguagem, na qual se podem exprimir imediatamente estados não-formulados, de outro modo informuláveis. E é a passagem a esta expressão verbal (que permite, ao mesmo tempo, viver sob urna forma ordenado e inteligível urna experiência real, mas, sem isto, anárquica e inefável) que provoca o desbloqueio do processo fisiológico, isto é, a reorganização, num sentido favorável, da sequência cujo desenvolvimento a diante sofreu. ’’ P.228
Outra parte do livro vem trazendo urna comparação mais particularizada entre xamanismo e psicanálise. ‘’Em ambos os casos, propõe conduzir á consciência conflitos e resistências até então conservados inconscientes, quer em razão de seu recalcamento por outras forjas psicológicas, quer no caso do parto por causa de sua natureza própria, que não é psíquica, mas orgânica, ou até simplesmente mecânica. Em ambos os casos também, os conflitos e as resistências se dissolvem, não por causa do conhecimento, real ou suposto, que a cliente adquire deles progressivamente, mas porque este conhecimento torna possível urna experiência específico, no curso da qual os conflitos se realizam numa ordem e num plano que permitem seu livre desenvolvimento e conduzem ao seu desenlace. ’’ P.229. Levi- Strauss sugere que o canto do xamã cuna está situado no limite entre a medicina física e as terapias psicológicas como a psicanálise.
 ‘’O paralelismo não exclui, pois, diferenças. Não se ficará admirado, se prestar atenção ao caráter psíquico, num caso, e orgânico no outro, da perturbado que se trata de curar. De fato, a cura xamanística parece ser um equivalente exato da cura psicanalítica, mas com urna inversão de todos os termos. [...] Para preparar a abreação, que se torna então urna “adequação”, o psicanalista escuta, ao passo que o xamá fala [...]’’ P. 230
Em seguida Levi- Strauss cita Sechehaye quando fala ‘’Sechehaye percebeu que o discurso, tão simbólico quanto possa ser, chocava-se ainda na barreira do consciente, e que ela só por atos podia atingir os complexos mais profundamente enterrados. Assim, para resolver um complexo de ablactação, a psicanalista deve assumir uma posição maternal realizada, não por urna reprodução literal da conduta correspondente, mas se é lícito dizer, por meio de atos descontínuos, cada um simbolizando um elemento fundamental desta situado: por exemplo, o contato da face da doente com o seio da psicanalista.’’ P.231
Depois o autor trás Freud quando ele fala que ‘’A analogia entre os dois métodos seria mais completa ainda, se pudesse admitir, como Freud parece ter sugerido por duas vezes, que a descrição em termos psicológicos da estrutura das psicoses e das neuroses deve desaparecer um dia diante de urna concepção fisiológico, ou mesmo bioquímica. [...] a cura xamanística e a cura psicanalítica tornar-se-iam rigorosamente semelhantes ; tratar-se-ia em ambos os casos de induzir urna transformado orgânica, que se constituiria essencialmente numa reorganizado estrutural, que conduzisse o doente a viver intensamente um mito, ora recebido, ora produzido, e cuja estrutura seria, no nível do psiquismo inconsciente, análoga àquela da qual se quereria determinar a formado no nível do corpo.’’ P. 232/233
Em uma parte do livro ele vem dizendo ‘’A eficácia simbólica consistiria precisamente nesta “propriedade indutora” que possuiriam urnas em relado ás outras estruturas formalmente homologam que se podem edificar, com materiais diferentes, nos diferentes níveis do vivente: processos orgânicos, psiquismo inconsciente, pensamento refletido.’’ P. 233
‘’Vimos que a única diferença entre os dois métodos que sobreviveria à descoberta de um substrato fisiológico das neuroses diria respeito á origem do mito, encontrado, num caso, como um tesouro individual, e recebido, noutro, da tradição coletiva. [...] O que é necessário indagar é se o valor terapêutico da cura se deve ao caráter real das situações rememoradas, ou se o poder traumatizante destas situações não provém do fato de que, do mo mento em que se apresenta, o sujeito as experimenta imediatamente sob forma de mito vivido. Com isto, entendemos que o poder traumatizante de urna situado qualquer não pode resultar de seus caracteres intrínsecos, mas da aptidão de certos acontecimentos, que surgem num contexto psicológico, histórico e social apropriado, para induzir urna cristalizada afetiva, que se faz no molde de urna estrutura preexistente. Em relação ao acontecimento ou à particularidade histórica, essas estruturas ou, mais exatamente, essas leis de estrutura as verdadeiramente intemporais. ’’ P. 233/234
Depois da diferença entre a psicanálise e xanamismo, Levi- Strauss vem trazendo a subconsciência e inconsciência, pois ele fala que o inconsciente deixa de ser o inefável refugio das particularidades individuais, o depositário de uma historia única, que faz de cada um nós um ser insubstituível. Ele se reduz a um termo pelo qual nós designamos um fundo: a fundo simbólica, especificamente humana, sem dúvida, mas que, em todos os homens, se exerce segundo as mesmas leis que se reduz, de fato, ao conjunto destas leis. Já o subconsciente é um reservatório de recordações e de imagens colecionadas ao longo de cada vida, se torna um simples aspecto da memória; ao mesmo tempo em que afirma sua perenidade, implica em suas limitações, visto que o termo subconsciente se relaciona ao fato de que as recordares, se bem que conservadas, não estão sempre disponíveis. Ao contrário, o inconsciente está sempre vazio; ou, mais exatamente, ele é tão estranho as imagens quanto o estômago aos alimentos que o atravessam. Órgão de uma função específica, ele se limita a impor leis estruturais, que esgotam sua realidade, a elementos inarticulados que provém de outra parte; pulsões, emoções, representações, recordações. Poder-se-ia dizer que o subconsciente é o léxico individual onde cada um de nós acumula o vocabulário de sua historia pessoal, mas que esse vocabulário só adquire significado, para nós próprios e para os outros, à medida que o inconsciente o organiza segundo suas leis, e faz dele, assim, um discurso.
Em seguida ele vem dizendo de vocabulário e estrutura. ‘’O vocabulário importa menos do que a estrutura. Quer seja o mito recriado pelo sujeito, quer seja tomado de empréstimo à tradição, ele só absorve de suas fontes, individual ou coletiva (entre as quais se produzem constantemente interpenetrações e trocas), o material de imagens que ele emprega; mas a estrutura permanece a mesma, e é por eia que a função simbólica se realiza. Acrescentemos que essas estruturas não são somente as mesmas para todos, e para todas as matérias as quais se aplica a fundo, mas que elas são pouco numerosas, e compreenderemos porque o mundo do simbolismo é infinitamente diverso por seu conteúdo, mas sempre limitado por suas leis. Existem muitas línguas, mas muito poucas leis fonológicas, que valem para todas as línguas. Uma compilação de contos e de mitos conhecidos ocuparia urna massa impotente de volumes. Mas se pode reduzir a um pequeno número de tipos simples, se forem postas em evidencia por detrás da diversidade dos personagens algumas funções elementares; e os complexos, esse mitos individuais, se reduzem também a alguns tipos simples, moldes aonde vem agarrar-se a fluida multiplicidade dos casos. ’’P.235
Portando, para Lévi-Strauss, o desbloqueio do processo fisiológico se dá pela possibilidade dada à parturiente de exprimir estados não formulados, a partir de uma linguagem fornecida pelo xamã. Para o antropólogo, não há razão para se duvidar da eficácia de certas práticas mágicas. Tal eficácia simbólica se apresenta sobre três aspectos complementares: a crença no feiticeiro e na eficácia de suas técnicas; a crença do doente que ele pretende curar no poder do feiticeiro; e por último a crença e a confiança da opinião coletiva.


Referências
CLAUDE LEVI- STRAUUS. Uol Educação. Biografia. Disponível em <http://educacao.uol.com.br/biografias/claude-levi-strauss.htm>. Acesso em 26 de abril de 2016.
GONÇALVES, Luana. Magia e Religião. Slide Share. 1 de maio de 2015. Disponível em < http://pt.slideshare.net/luanagoncalves399/magia-e-religio-levi-strauss>. Acesso em 26 de abril de 2016.
MOCELIN, Daniel. Lévi-Strauss: Eficácia simbólica, interação social e xamanismo.Fatos sociológicos. 15 de outubro de 2010. Disponível em <http://fatosociologico.blogspot.com.br/2010/10/levi-strauss-eficacia-simbolica.html>. Acesso em 26 de abril de 2016.
STRAUSS, Claude Levi. Eficácia Simbólica. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975.
Fichamento

MAX GLUCKMAN


RITUAIS DE REBELIÃO NO SUDESTE DA ÁFRICA.

Os zulus não tinham um panteão desenvolvido. (…) A única divindade desenvolvida era Nomkubulwana, a princesa do Céu, homenageada pelas mulheres e pelas moças de distritos locais de Zululândia e Natal, quando as plantações começavam a crescer. (pg7)

Os Zulus dizem que ela se move com a neblina e é de um lado ser humano, de outo um rio e de outro é coberta de relva, (pg8)

Entre os Zulus, o mais importante desses ritos requeria comportamento obsceno da parte de mulheres e moças. Essas se vestiam como homens e tratavam e tirava leite do gado, coisa que geralmente era tabu pra elas. (pg8)

Esse papel temporariamente dominante da mulher (um papel dominante publicamente instituído, realmente aprovado e não apenas exercido tacitamente num plano secundário) contrastava fortemente com os mores desses povos patriarcais. (pg9)

Pois, como espíritos, as mulheres eram caprichosamente más: ancestrais masculinos normalmente não continuavam a afligir seus descendentes depois de feito um sacrifício, mas os espíritos femininos continuavam a causar prejuízos e maldades. (pg11)

… Mas na prática, além de serem úteis como principais cultivadoras das roças, eram essenciais para a sociedade. (pg11)

Um homem cuja mulher lhe dá dois filhos, produz dois rivais na disputa de apenas uma posição e propriedade e sua mulher é a responsável por esse perigoso desdobramento da personalidade dele. (Pg12)

O gado entra nessa série de conflitos primeiramente como o mais importante item de propriedade disputado pelo homem, além da posição. (…) Outra importante fonte de conflito era as mulheres. Porém, num certo sentido, mulheres e gado se identificavam. (pg12)

Quando uma moça se casava, era substituída em casa por gado e seu irmão usava esse gado para obter ele mesmo uma noiva. (pg13)

Essas cerimônias ocorriam quando as mulheres tinham iniciado as incertas e árduas tarefas agrícolas anuais e pressagiavam uma boa colheita concedida por uma deusa, à única deusa dentre uma série de “deuses” e ancestrais viris.  (pg13)


A deusa, possuidora do privilégio de conceder ou impedir uma colheita generosa, liga dessa forma a vida social ao mundo natural que a cerca. (…) Sua figura é apenas parcialmente humana, pois em parte constitui-se também de bosques, relvas, rios e roças. É mulher fértil, porém donzela e solteira. (pg13)


… Mas passo agora a analisar uma grande cerimônia nacional ligada às colheitas e à realeza. (pg 14)

O reino Zulu foi desmantelado após a guerra Anglo-Zulu de 1879, mas felizmente os seus vizinhos Suazi ainda realizam cerimoniais nacionais muito parecidas com aquelas realizadas anteriormente pelos zulus (pg14)


Ninguém come de algumas colheitas antes que a cerimônia seja realizada. Na maios parte das tribos sul-africanas, a quebra desse tabu representava perigo ritual  para o líder e não para o trangressor, pois aquele é que tivera “roubado” seu direito de precedência. (pg14)

...Um touro negro é roubado do rebanho de algum súdito não pertencente ao clã real. “Ele fica enraivecido e orgulhoso”, essas emoções conflitantes, ao que dizem, impregnam os ingredientes do ritual. (…) à medida que atravessam o país, os graves sacerdotes praticam saque permitido sobre a população. (pg15)

Enquanto isso, o rei está no cercado sagrado. Os sacerdotes do Mar trazem remédios para tratar dele: as mulheres desviam seus olhos, pois “quem olha para os remédios do rei pode enlouquecer”. (pg16)

Os forasteiros e os membros do clã real são expulsos e a cerimônia do cuspir é repetida. O ritual acaba aí. (pg17)

...Enquanto são entoadas as canções de rejeição, e ódio, o rei atravessa a multidão, dirigindo-se ao cercado sagrado. Ele está nu a não ser por uma peça de marfim brilhante que cobre o seu prepúcio. Suas mães o lamentam e choram. (pg18)

... Neste ritual o rei parece um monstro selvagem, com plumas negras na cabeça, relva de bordas afiadas, tudo com significado no ritual. Durante essa execução o rei dança, sai e retorna para o santuário, quando os príncipes se agrupam atrás dele batendo nos escudos comemorando, pois o rei se mantem vivo e saudável. Finalmente jovens com escudos especiais vem para frente cantando canções de triunfo. (pg19)
O rei retorna duas ou três vezes ao santuário, ressurgindo com uma abobora verde lançando num dos escudos. Nos tempos de guerra o homem cujo escudo foi atingido, seria sacrificado em batalha, sugerindo ser um “bode expiatório” nacional. (pg. 20)


Estamos diante de um mecanismo social que desafia sociólogos, psicólogos, e biólogos a fazerem uma análise em detalhe dos processos pelos quais essa representação do conflito leva ao benefício da unidade social. As cerimônias tem um simbolismo importante, é possível sentir a atuação das poderosas tensões que formam a vida nacional, nas relações entre estado e rei, contra o povo e o povo contra o rei e o estado. (pg21)

Eu acentuaria principalmente que o ritual de rebelião ocorre dentro de uma ordem social estabelecida, não posta em questão. No passado dos Bantos do Sudeste podem ter criticado certas autoridades e indivíduos e se rebelado contra eles, mas não discutiam as instituições. (pg22)

A aceitação da ordem estabelecida como certa, benéfica ou mesmo sagrada parece permitir excessos desenfreados, verdadeiros rituais de rebelião, pois a própria ordem age para manter a rebelião dentro de seus limites. (pg22)

É o rei em particular, odiado e rejeitado por alguns, que deve inspirar pena e conseguir o apoio de quem é leal. O povo pode detestar o reinado ao ressentir sua autoridade, mas não quer subvertê-lo. Pois “divino é o reinado, não o rei”. (pg24)

...Mas, na prática, os líderes desses segmentos territoriais inclinavam-se mais a lutar pelo reinado ou pelo poder em torno dele e não pela independência. Assim guerras civis periódicas fortaleciam o sistema, canalizando as tendências à segmentação e demonstrando que a meta máxima dos líderes era o posto sagrado do rei. (pg26)

...É depois da colheita que as guerras são organizadas e lutas internas estouram. (...) Depois dos primeiros frutos e da colheita, são retomadas as atividades sociais mais amplas: casamentos, danças, festa da cerveja, passam a ocorrer diariamente e atraem vizinhanças inteiras. (pg27)

A cerimônia das mulheres e as cerimônias do rei na época do plantio e na dos primeiros frutos são claramente rituais agrícolas. (gp28)

Talvez possamos ir agora mais longe e acrescentar que os conflitos entre indivíduos e ordem política como um todo são demonstrados no ritual de rebelião. (pg30)

...A tendência à rebelião requer expressão ritual para que a estrutura social seja mantida? Por que a reversão de papeis é tão importante para o mecanismo desse processo? De que maneira o próprio ritual mantém dentro de certos limites os sentimentos de rebeldia que ele mesmo desperta? (pg32)
Fichamento

O LIVRO SEXO E COMPORTAMENTO (INTRODUÇÃO E CAPÍTULOS 2 E 8)


MARGARET MEAD


Nasceu em 1901 nos Estados Unidos, foi casada três vezes e teve dois casos com mulheres. Em uma sociedade conservadora, Mead esteve marcada por uma vida “escandalosa”. Fugiu de todos os padrões ao se tornar uma Antropóloga e realizar estudos de campo (aos 22 anos foi para a Samoa Americana, no Pacífico Sul), onde despertou curiosidades e críticas sobre a ausência de um marido em sua vida. Teve dois relacionamentos com mulheres.
Margaret Mead estudou sobre o comportamento das mulheres e em seu livro “Sexo e Temperamento” analisou o fato das diferenças entre homens e mulheres não serem meramente biológicas através de estudos de três culturas diferentes, assim como também analisou o comportamento angustiante dos adolescentes descrita no livro “Adolescência, sexo e cultura em Samoa”.  É considerada a pioneira ao propor que as características masculinas e femininas refletiam as influências culturais e sociais, não se limitando às diferenças biológicas e também a mais famosa antropóloga de todos os tempos. Com seu trabalho, influenciou fortemente o feminismo gerando argumentos sólidos.
Margaret Mead morreu em 1978 aos 77 anos.



INTRODUÇÃO E CAPÍTULOS 2 E 8


  • ·         Ela estudou três tribos primitivas: Arapesh, Mundugumor e Tchambuli;
  • ·         QUESTÃO: “Seriam as diferenças entre o homem e a mulher meramente biológicas?”;
  • ·         Arapesh: temperamento pacífico; Mundugumor: atitude guerreira, agressivos; Tchambuli: homens passavam a maior parte do tempo a ornamentarem-se para ficarem bonitos, perdendo tempo com futilidades, enquanto as mulheres trabalhavam arduamente e eram práticas.
  • ·         Mais do que a biologia, é a cultura que molda o comportamento das pessoas em sociedades.
  • ·         “o ideal Arapesh é o homem dócil e suscetível, casado com uma mulher dócil e suscetível; o ideal Mundugumor é o homem violento e agressivo, casado com uma mulher também violenta e agressiva”, enquanto, entre os Tchambuli, é “a mulher é o parceiro dirigente, dominador e impessoal, e o homem a pessoa menos responsáel e emocionalmente dependente”.
  • ·         “Para os Arapesh, o mundo é uma plantação que deve ser lavrada, não por si mesmo, não no orgulho e jactância, não para a acumulação e a usura, mas para que os inhames e os cachorros, os porcos, e, acima de tudo, as crianças possam crescer. Ausência de conflito entre velhos e jovens, a falta de qualquer expectativa de ciúme ou inveja, a ênfase na cooperação”.  (pág.142).
  • ·         “A admissão Arapesh de que a natureza humana é boa e inteiramente desejável, sua incompreensão para o fato de existirem muitos impulsos humanos que são definitivamente antissociais e destrutivos, possibilita o florescimento em seu meio de indivíduos extravagantes”. (pág. 147)
  • ·         “O homem ideal para os Arepesh é o que nunca prova brigas, mas que, se provocado, irá defender-se, dará tanto quanto receber e não mais, restabelecendo o equilíbrio perdido”. (pág.157).
  • ·         “De fato, a sociedade não dá margem à violência, mas não lhe concede significado. Não havendo lugar para a guerra, para uma forte liderança, para façanhas de bravura e de força, estes homens se veem tratados quase como loucos”. (pág. 159).
  • ·         “Os Arapesh dizem de um homem mau: Se sua esposa for uma boa mulher, lhe abandonará. Não consideram virtude permanecer fiel a alguém cuja conduta o tenha alienado a sociedade”. (pág. 160).
  • ·         “Insistindo em admitir que todas as pessoas são boas e brandas, que homens e mulheres, de igual maneira não tem impulsos sexuais fortes ou agressivos, que ninguém tem outras finalidades a não ser criar inhames e crianças, os Arapesh tornaram impossível a formulação de regras para controlar apropriadamente aqueles cujos temperamentos não se conformam com ao ideal aceito”. (pág. 162).v
  • ·           “Se aquelas atitudes temperamentais que tradicionalmente reputamos femininas – tais como passividade, suscetibilidade e disposição de acalentar crianças – podem tão facilmente ser erigidas como padrão masculino numa tribo, e na outra ser prescritas para a maioria das mulheres, assim como para a maioria dos homens, não nos resta mais a menor base para considerar tais aspectos de comportamento como ligados ao sexo. E esta conclusão torna-se ainda mais forte quando observamos a verdadeira inversão entre os Tchambuli, da posição de dominância dos dois sexos, a despeito da existência de instituições patrilineares formais”.

Fichamento

Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande


Evans Pritchard


I

* As diferentes maneiras de se fazer trabalho de campo. Pritchard aqui alude para a diversidade de fazer Etnografia.



* A importância da personalidade do antropólogo ao lidar com o trabalho de campo.

* A importância do conhecimento prévio do antropólogo.

* É interessante que o antropólogo vá à campo com ideias pré-concebidas porque a função dele é testar se essas ideias são verdadeiras ou não, essa é a função do Antropologo.

* "O antropólogo deve seguir o que encontra na sociedade que escolheu estudar."

* Beneficio de se estudar mais de uma sociedade. O Antropólogo passa a não mais comparar a nova sociedade estudada com apenas a "sociedade mãe" dele, mas também a sociedade que ele estudou.

* Ele também se torna mais hábil no trabalho de campo, afinal adquiriu experiência anteriormente.

* O que fazer com as anotações de campo? Edição de trabalho e publicação.

II

* "Percebi que se eu queria saber como e por que os africanos faziam certas coisas, o melhor era fazê las  eu mesmo: possuir uma cabana e um estábulo, como eles, cacei com eles, com lança, arco e flecha; aprendi a fazer cerâmica, consultei os oráculo e assim por diante."

* Os nativos dificilmente o aceitarão com um deles. Isso é um fato. Então o antropólogo não deve tentar ser como um nativo.



* Quando esta em terras estranhas o antropólogo se torna um alienado de dois mundos, ele não pertence a lado nenhum se encontra em um limbo. Já não pertenço a sua sociedade pois esta fora dela e não foi aceito e dificilmente será aceito totalmente na sociedade a ser estudada.

* A necessidade de se acreditar no assunto estudado. No caso do pritchard de certa forma acreditar na bruxaria Azande fez com que ele ficasse mais imerso na cultura.

* "Ao longo do seu trabalhos as vezes os antropólogos são transformados pelo povo que estão estudando.

* O aprendizado que você tem junto com o povo estudado.

III

* A diferença no uso de determinadas técnicas porque a sociedade a ser estudada é diferente. Não se pode usar questionários ou coisas do tipo por que os Nuer(exemplo) eram iletrados.

* A figura de informante para o auxilio na pesquisa. Pessoa que doa informações sobre a sociedade para o antropólogo, geralmente age em confidencialidade. O antropólogo deve sempre julgar a informação que esta recebendo. Pois se o informante contar com um caráter duvidoso irá cousar interferência na sua pesquisa.

* Aprender a língua nativa é de grande importância para a verificação de informações.

* "Para um antropólogo observador, uma mentira pode ser mais reveladora que a verdade".

* Obtenção de informações com técnicos que trabalham em sua área de pesquisa  - Agrônomos, botânicos, médicos, veterinários, etc. Assim ele pode obter informações que não conseguiria de outra forma.

* "A antropologia lhes cheira a colonialismo cultural, A uma afirmação arrogante da superioridade europeia - O branco estudando o negro."

* "No passado os antropólogos venderam-se com muita facilidade aos interesses colonialistas."

* Medo na Africa da palavra Antropologia. Pritchard aconselha seus alunos a se passarem por historiadores ou linguistas.

IV

* Impreensidivel o aprendizado da língua do povo que se quer estudar.

* Ganhar confiança dos nativos com as crianças. " Quando as crianças me aceitavam, então os adultos também me aceitariam.

V

* "Deve se registrar no caderno de campo o Maximo possível, Tudo o que se observa."

* "Tudo deve ser publicado pois o que não é publicado esta perdido para sempre."
Fichamento

Raça e História - Claude Lévi Strauss


Raça e História é um texto antropológico perene, até hoje usado em debates em prol da luta contra o preconceito racial.

1-Raça e Cultura – O antropólogo, etnólogo e filósofo belga Lévi Strauss diz que nada no estado atual da ciência permite afirmar a superioridade ou inferioridade intelectual de uma raça em relação a outra. A humanidade se desenvolve de formas muito diversificadas em sociedade e civilizações onde a diversidade intelectual, estética e sociológica não está conecta por nenhuma relação de causa e efeito no plano biológico, onde não é correto relacionar aptidões distintas a constituições anatômicas ou fisiológicas de negros, amarelos ou brancos. Ele observa aspectos importantes como a existência de muito mais culturas que raças humanas.

2-Diversidade das Culturas - O conceito de diversidade cultural, leva em conta as diferenças entre as culturas contemporâneas, que coexistem num determinado período de tempo. Entre as culturas que ocupam momentos históricos diversos salienta que no caso dessas últimas não temos acesso ao seu conhecimento pela experiência direta, o que acaba prejudicando a observação de toda sua riqueza e complexidade. Strauss chama a atenção para a existência de povos que não adotaram a escrita, fato que inviabiliza o conhecimento preciso de suas formas anteriores. Inviabilizando assim a elaboração de um inventário completo das culturas no espaço e no tempo. Jamais seremos capazes de conhecer toda a riqueza cultural que esteve (e está) presente no planeta.
Feitas essas considerações, o autor questiona no que consistem culturas diferentes. Tal questionamento conduz à constatação de que sociedades que “derivam de uma mesma raiz” não apresentam tantas diferenças quanto sociedades que apresentam origens completamente diferentes, embora se constituam em sociedades distintas. É constatado que em alguns casos vê-se um processo de aproximação entre duas culturas, mesmo quando essas apresentam “origens distintas”. Por trás dessas constatações revela-se uma tensão observada dentro das sociedades humanas, entre uma força que trabalha no sentido de manter as tradições culturais, e outra força que atua no sentido de promover a aproximação com outras culturas. Tal revelação leva à conclusão de que a diversidade cultural não se apresenta de maneira estática e é antes produto de contato entre culturas do que do isolamento.

3-O Etnocentrismo - Strauss descreve que no etnocentrismo, há uma postura de rejeição e de menosprezo perante formas culturais diferentes, é um traço cultural estranho comum entre a maioria das culturas. O autor fornece uma série de exemplos de posturas etnocêntricas adotadas por diferentes sociedades como na antiguidade onde os povos que não compartilhavam da cultura greco-romana eram considerados “bárbaros”, da mesma forma a civilização ocidental costuma se referir aos povos que não adotam seus valores como “selvagens”. Nesse contexto, a cultura ocidental, marcada pelo advento das revoluções industrial e científica, tomando como base especulações filosóficas, estabelece um sistema “evolutivo” que procura abarcar toda a diversidade cultural do planeta, como se fosse uma manifestação de diferentes “estágios de desenvolvimento”: toda a humanidade estaria destinada a atingir, em seu ápice, o mesmo “nível” do Ocidente. Este é o conceito de evolucionismo social, criticado por Strauss.
Dada a diversidade cultural no tempo e no espaço, e os vários aspectos que apresentam cada civilização, Lévi-Strauss pondera que a tentativa de estabelecer analogias entre diferentes culturas a partir de um de seus aspectos pode nos levar a conclusões equivocadas. Para tanto, menciona como exemplo o paralelo que muitas vezes é estabelecido entre sociedades paleolíticas e sociedades indígenas contemporâneas, que por apresentarem como traço comum a utilização de instrumentos de pedra talhada, conduzem a afirmações errôneas de que ambas se constituem em culturas semelhantes, quando na verdade não existem subsídios concretos, principalmente em relação às sociedades paleolíticas, cujo comportamento não pode ser precisamente reproduzido, para se estabelecer tal relação. A partir dessas constatações, critica a concepção de que existem “povos sem história”, em que nada teria acontecido ao longo dos milênios que essas sociedades ocupam o planeta.
4-Culturas arcaicas e culturas primitivas – O autor sugere que toda sociedade segundo seu próprio ponto de vista pode dividir a cultura como sendo as que são suas contemporâneas que também se encontram num outro lado do globo, as que foram manifestadas próxima do mesmo local mas que a precederam no tempo e as que existiram num tempo anterior ao seu e num lugar diferente ao que está situada. Vimos que estes três grupos podem ser conhecidos de forma desigual. No último caso e quando se trata de culturas sem escrita, sem ter deixado algum tipo de construção, e com técnicas rudimentares, não temos conhecimento sobre elas e tudo o que tentamos saber a seu respeito não passam de hipóteses. Por outro lado, tenta-se estabelecer, entre as diversas culturas do primeiro grupo, relações que correspondem a uma ordem de sucessão no tempo. O autor questiona de forma de forma relevante: Como é que sociedades contemporâneas, que continuam a ignorar a eletricidade e a máquina a vapor, não evocariam a fase correspondente do desenvolvimento da civilização ocidental? Como não comparar as tribos indígenas, sem escrita e sem metalurgia, gravando figuras nas paredes das rochas e fabricando utensílios de pedra, com as formas antigas das nossas civilizações, cuja semelhança é atestada pelos vestígios encontrados nas grutas da França e Espanha?
Strauss nos dá a entender que foi justamente aí que o falso evolucionismo ganhou espaço. E ainda diz que nos deixamos seduzir sempre que há oportunidade. (não se compraz o viajante ocidental em encontrar a “idade média” no Oriente, o “século de Luís 14” na Pequim de antes da Primeira Guerra Mundial, a “idade da pedra” entre os indígenas da Austrália ou da Nova Guiné?) é extraordinariamente pernicioso.

Das civilizações desaparecidas, conhecemos apenas alguns aspectos e estes diminuem à medida que são mais antigas, pois os aspectos conhecidos são os únicos que puderam sobreviver à destruição do tempo. O processo consiste, pois em tomar a parte pelo todo, em concluir que, a partir do fato de que duas civilizações (uma atual, a outra desaparecida) ofereçam semelhanças em alguns aspectos, pode-se estender a analogia à todos os aspectos. Ora, esta maneira de raciocinar não só é logicamente insustentável, mas ainda, num bom número de casos, é desmentida pelos fatos. Até uma época relativamente recente, os tasmanianos e os patagônios possuíam ferramentas de pedra lascada, e certas tribos australianas e americanas ainda os fabricam. Mas o estudo destes instrumentos ajuda-nos muito pouco a compreender o seu uso no período paleolítico. Como eram, então, usados os famosos machados de pedra oval, cuja utilização devia, no entanto, ser de tal forma precisa, que a sua forma e técnica de fabricação permaneceram padronizadas de maneira rígida durante cem ou duzentos mil anos, e num território que se estendia da Inglaterra à África do Sul, da França à China?

Para que serviam as extraordinárias peças feitas com a técnica Levallois, pedras lascadas de formato triangular que encontramos às centenas nos jazigos e que nenhuma hipótese consegue explicar completamente? O que eram os pretensos “bastões de comando” em osso de rena?  Qual poderia ser a tecnologia da cultura tardenoisense que deixou para trás um número inacreditável de minúsculos pedaços de pedra polida, com formas geométricas infinitamente diversificadas, mas muito poucos utensílios na escala da mão humana?

Todas estas incertezas mostram que entre as sociedades paleolíticas e determinadas sociedades indígenas contemporâneas existe uma semelhança – serviram-se de utensílios de pedra polida. Mas mesmo no plano da tecnologia, torna-se difícil ir mais longe; o emprego dos materiais, os tipos de instrumentos, e, por tanto o propósito com que eram usados, eram diferentes, e mesmo neste aspecto limitado um grupo nos ensina muito pouco em relação ao outro.

Como poderíamos então aprender qualquer coisa sobre linguagem, instituições sociais ou crenças religiosas? Uma das interpretações mais populares inspiradas pelo evolucionismo cultural trata as pinturas rupestres legadas pelas sociedades do paleolítico médio como figurações mágicas ligadas a rituais de caça.

O raciocínio é o seguinte: as populações primitivas atuais têm rituais de caça, que a maior parte das vezes, nos aparecem desprovidos de valor utilitário; as pinturas rupestres pré-históricas, tanto pelo seu número como pela sua localização, bem no fundo das cavernas, não aparentam ter qualquer valor utilitário; os seus autores eram caçadores, logo podemos concluir que eram usadas em rituais de caça. Basta enunciar esta argumentação para se perceber sua inconsequência.

Além disso, é sobretudo entre os não-especialistas que ela ganha força, porque os etnógrafos estão de acordo em afirmar que nada, nos fatos observados, permite formular qualquer hipótese sobre a natureza destas pinturas. E, já que falamos das pinturas rupestres, sublinharemos que, à exceção das sul-africanas (consideradas por alguns como obras recentes), as artes “primitivas” estão tão afastadas da arte do Paleolítico como da arte europeia contemporânea. Porque esta se caracteriza por um elevado grau de estilização, indo até às deformações mais extremas, enquanto a arte pré-histórica oferece um realismo surpreendente.

Poderíamos cair na tentação de ver nesta última a origem da arte europeia, mas isso seria inexato, uma vez que, no mesmo território, a arte paleolítica foi seguida por outras formas que não apresentam as mesmas características; a continuidade do lugar geográfico não muda o fato de que sobre o mesmo solo se sucederam diferentes populações, alheias à obra dos seus antecessores, e trazendo cada uma consigo crenças, técnicas e estilos diferentes.

O ponto que as civilizações da América pré-colombiana atingiram na véspera da descoberta evocam o período neolítico europeu. Mas também esta comparação não resiste a um exame mais atento; na Europa, a agricultura e a domesticação de animais caminham de mãos dadas, enquanto na América, um desenvolvimento excepcional da agricultura é acompanhado pela quase completa ignorância (ou, de qualquer modo, por uma extrema limitação) da criação de animais domésticos.

Na América, o uso de utensílios de pedra convive com uma economia agrícola que na Europa está associada ao início da metalurgia. É inútil multiplicar os exemplos. Porque a tentativa de conhecer a riqueza e a originalidade das culturas humanas, só para tomá-las como réplicas atrasadas da civilização ocidental, choca-se com uma outra dificuldade que é muito mais profunda. De uma maneira geral (e excetuando a América, a qual voltaremos) todas as sociedades humanas têm atrás delas um passado aproximadamente da mesma ordem de grandeza.

Para considerar determinadas sociedades como “etapas” do desenvolvimento de outras, seria preciso admitir que enquanto com umas se passava qualquer coisa, com outras não acontecia nada, ou muito pouco.

E, na verdade, falamos dos “povos sem história” (para dizer, por vezes, que são “os mais felizes”). Esta forma elíptica significa apenas que sua história é e continuará a ser desconhecida, não a sua inexistência. Durante dezenas e mesmo centenas de milênios, também nesses povos existiram homens que amaram, odiaram, sofreram, inventaram, combateram.

Na verdade, não existem povos crianças, todos são adultos, mesmo aqueles que não deixaram um diário de infância e da adolescência. Poderíamos, na verdade, dizer que as sociedades humanas utilizaram desigualmente um tempo passado que, para algumas, teria sido mesmo um tempo perdido; que umas andavam rapidamente, enquanto outras divagavam ao longo do caminho. Seríamos assim conduzidos a distinguir duas espécies de histórias: uma progressiva, aquisitiva, que acumula os achados e as invenções para construir grandes civilizações; e uma outra história, talvez igualmente ativa e empregando outros dons, mas a que faltasse o talento da síntese.

Cada inovação em vez de acrescentar às anteriores, e orientadas no mesmo sentido, dissolver-se-ia numa espécie de onda que nunca consegue se afastar por muito tempo da direção original. Esta concepção parece muito mais flexível e matizada que as visões simplistas descritas anteriormente. Podemos guardar um lugar para ela na nossa tentativa de interpretação da diversidade das culturas sem sermos injustos com as demais. Mas, antes, é necessário que examinemos várias questões.

5- A ideia de progresso - Nesse sentido, a ideia de progresso é questionada, mediante as evidências de que não há uma direção única na manifestação do gênio humano, seja no campo da técnica, das artes, da organização social, etc. Para tanto, Lévi-Strauss se vale da metáfora do movimento do cavalo no jogo de xadrez, movimento que se processa com várias mudanças de direção, mas permitem alcançar diversos espaços no tabuleiro; analogamente, os progressos da humanidade não seguem uma trajetória em linha reta, mas atravessam caminhos tortuosos até se consolidarem em efetiva mudança de patamar.
Retomando a discussão sobre história cumulativa e estacionária, somos colocados diante do problema referente ao critério que nos permitiria enquadrar uma determinada sociedade num modelo ou noutro de história. Dessa forma, é formulada a ideia de que um determinado observador tende a considerar cumulativa toda a cultura que se desenvolve na mesma direção que a sua — um conceito relativo, portanto. Para ilustrar a situação, uma nova metáfora é apresentada: a de um observador que se desloca em um trem, cruzando com outros trens a medida em que se movimenta; ao contrário do observado sob o aspecto físico, ao observador parece que os trens (culturas) que se movem na mesma direção do seu se deslocam mais rapidamente, ao passo que aqueles que andam por direções e sentidos diferentes dão a impressão de se moverem com lentidão.
Por outro lado, Lévi-Strauss propõe que todas as civilizações reconhecem a superioridade do Ocidente, uma vez que seria observável uma tendência de difusão de vários traços culturais ocidentais entre os mais diferentes povos, a se destacar a técnica, a ciência, os modos de vida, etc. Nesse sentido, constata que a adoção de tais valores por outras culturas nem sempre se dá de modo consensual, tendo contado a civilização ocidental, não raro, com seu aparato militar, econômico e ideológico para impor sua “dominação”.
Sobre esse movimento de caráter “global”, cujo estopim foi a Revolução Industrial, o autor traça um paralelo com a outra única revolução dotada dessa mesma característica, a Revolução Neolítica, que marcou a descoberta da agricultura, mudando definitivamente as feições dos grupos sociais humanos por toda a Terra. Essas revoluções são caracterizadas como grandes “saltos quânticos” na história da humanidade.
Lévi-Strauss ressalta que os progressos tecnológicos adquiridos ao longo do tempo pelas sociedades humanas — alterando sua relação com a natureza e dentro dos próprios grupos sociais — de forma alguma podem ser consideradas como obras do acaso, embora houvesse uma clara inclinação para tal interpretação, principalmente em relação às descobertas mais antigas. Ora, se não houvesse uma pré-disposição, um desejo subjacente, jamais ocorreria uma descoberta acidental. Mesmo essas circunstâncias acidentais devem ser raras, contribuindo pouco para os novos progressos; antes, os avanços são fruto de intenso trabalho dos inventores.
Outra constatação importante do autor é de que os progressos realizados pelas sociedades humanas são tanto maiores quanto maior é a diversidade, a quantidade e a intensidade do contato entre culturas. Menciona como exemplo a Europa na época do Renascimento, que num território limitado abarcava uma miríade de povos, com as mais diferentes tradições culturais. Isso porque diferentes conhecimentos podem estabelecer “diálogos”, engendrando novos conhecimentos. Nesse ponto é apresentada a metáfora do jogador, que procura aumentar suas possibilidades de ganho num jogo de roleta: se optar por jogar sozinho, dificilmente conseguirá formar uma série consecutiva longa, por outro lado, se estabelecer coligações com jogadores de outras mesas, que fazem apostas diferentes, a possibilidade de estabelecer uma sequência longa se ampliam. Vem daí a grande importância de a humanidade preservar sua diversidade cultural.
Contudo, Lévi-Strauss observa em curso um processo de gestação de uma “civilização mundial”, um processo de homogeneização cultural, fato que seria preocupante na medida em que significaria a redução drástica da diversidade de culturas, diminuindo a possibilidade de estabelecer “diálogos culturais” e consequente geração de novos conhecimentos. Retomando a metáfora do jogador, é como se todos os jogadores passassem a fazer as mesmas apostas, diminuindo as chances de se obter uma sequência longa. Com o objetivo de preservar a diversidade cultural, o autor destaca o papel a ser desempenhado pelas instituições internacionais.
As culturas não possuem estágios homogêneos de desenvolvimento, não havendo uma única direção no desenvolvimento social.
O contato com outras culturas pode ocasionar essa alteridade “desenvolvimento”. E a percepção das diferenças pode gerar uma visão etnocêntrica do mundo.
Não existem culturas em estágios de evolução superior ou inferior.
Nenhuma cultura é estacionaria, estão sempre se modificando
Longe de permanecer encerradas em si mesmas, todas as civilizações reconhecem, uma após outra, a superioridade de uma delas, que é a civilização ocidental. Não vemos nós o mundo inteiro extrair dela progressivamente as suas técnicas, o seu gênero de vida, as suas distrações e até o seu vestuário? Tal como Diógenes provava o movimento andando, é o próprio progresso das culturas humanas que, desde as imensas populações da Ásia até as tribos perdidas na selva brasileira ou africana, prova, por uma adesão unânime sem precedentes na história, que uma das formas da civilização humana é superior a todas as outras: o que os países "insuficientemente desenvolvidos" reprovam aos outros nas assembleias internacionais não é o fato destes os ocidentalizarem, mas o fato de não lhes darem bastante rapidamente os meios de o fazerem. (pag.13)

Não podemos considerar o darwinismo social, não existem culturas que estão estágios de evolução inferior ou superior. De acordo com Strauss os humanos podem ser classificados por suas etnias, e não por estágios de evolução social, pois todas as culturas possuem um mesmo material básico (linguagem, técnicas, arte e entre outros).



Começaremos por observar que esta adesão ao gênero da vida ocidental, ou a alguns dos seus aspectos, está longe de ser tão espontânea quanto os ocidentais gostariam que ela fosse. Resulta menos de uma decisão livre do que de uma ausência de escolha. A civilização ocidental estabeleceu os seus soldados, as suas feitorias, as suas plantações e os seus missionários em todo o mundo: interveio, direta ou indiretamente, na vida das populações de cor, revolucionou de alto a baixo o modo tradicional de existência destas, quer impondo o seu, quer instaurando condições que engendrariam o desmoronar dos quadros existentes sem os substituir por outra coisa. (pag.14)
 
Para Strauss, não faz nenhum sentido discutir o sentido da raça humana, pois  as diferenças baseadas em caraterísticas corporais é muito pequeno quando comparado com as semelhanças genéticas dos indivíduos. Com isso ele centraliza sua tese no conceito de cultura.


7.Lugar de civilização acidental

Tocamos aqui no ponto mais sensível do nosso debate; de nada valeria querer defender a originalidade das culturas humanas contra si mesmas. Além do mais, é extremamente difícil para o etnólogo fazer uma justa apreciação de um fenômeno como a universalização da civilização ocidental e isso por várias razões. Primeiro, a existência de uma civilização mundial é um fato provavelmente único na história e cujos precedentes deveriam ser procurados numa pré-história longínqua, sobre a qual não sabemos quase nada. Em seguida, reina uma grande incerteza sobre a consistência do fenômeno em questão.

Para Strauss  a chamada universalização ocidental é difícil de ser avaliada, pois e praticamente único na historia da humanidade e dado a incerteza de seus resultados. A adesão ao gênero de vida ocidental se da em desigualdade de forças, o que leva a Lévi Strauss considerar que as sociedades não se entregam com tanta facilidade e que esta adesão se deve mais a uma ausência de escolha.


8. Acaso e civilização
Lemos nos tratados de etnologia - e não só nos piores - que o homem deve o conhecimento do fogo ao acaso de uma faísca ou de um incêndio; que o achado de uma peça de caça acidentalmente assada nestas condições lhe revelou o cozimento dos alimentos; que a invenção da olaria resulta do esquecimento de uma bolinha de argila na vizinhança de uma lareira. Diríamos que o homem teria vivido primeiro numa espécie de idade de ouro tecnológica, onde as invenções se colhiam com a mesma facilidade que os frutos e as flores. Ao homem moderno estariam reservadas as fadigas do labor e as iluminações do gênio. (pag.15)

Strauss “descarta” o que chamamos de acaso nas grandes invenções da humanidade no passado e diz que a revolução industrial e cientifica do ocidente se inscreve no período igual a cerca de meio milésimo da vida passado da humanidade. Nos orientando a sermos modestos antes de pensarmos que ela está destinada a mudar o significado para uma raça, religião ou país. Reitera ainda que as diferenças entre culturas não deve ser cumulativas; o conceito que além de depender do relativismo de nossos interesses e negado ainda pelo fato de que a humanidade não evolui num sentido único.

9. A colaboração das culturas

Ora, esta situação assemelha-se muito à das culturas que conseguiram realizar as formas da história mais cumulativas. Estas formas extremas nunca foram resultado de culturas isoladas, mas sim de culturas que combinam, voluntária ou involuntariamente, os seus jogos respectivos e realizam por meios variados (migrações, empréstimos, trocas comerciais, guerras) estas coligações cujo modelo acabamos de imaginar. E é aqui que atingimos o absurdo que é declarar uma cultura superior a outra. Porque, na medida em que se encontrasse isolada, uma cultura nunca poderia ser "superior"; como o jogador isolado, ela nunca conseguiria senão pequenas séries de alguns elementos, e a probabilidade de que uma série longa "saia" na sua história (sem ser teoricamente excluída) seria tão fraca que seria preciso dispor-se de um tempo infinitamente mais longo do que aquele em que se inscreve o desenvolvimento total da humanidade para ser possível vê-la realizar-se. (pag. 19)

O principal absurdo de considerar uma cultura inferior ou superior, segundo Strauss, surge do fato de que a que uma cultura está só ela elabora muito pouco de história acumulativa. Não se pode então fazer uma listagem de invenções particulares, pois a verdadeira contribuição das culturas está no afastamento diferencial que elas apresentam entre si.